sexta-feira, 29 de abril de 2016

OS TEMPOS ANTIGOS





















Relicário dos Prazeres
Autor: Manuel Mar.

Os Tempos Antigos!

Sou do tempo da miséria
Que vivia envergonhada,
Que suportava a fome,
Porque não tinha nada.
Trabalhava-se:
Do nascer ao por do sol,
Começando no mata-bicho
De passas e aguardente,
Seguia-se logo o trabalho.
Às 10 horas o almoço,
Depois às treze o jantar,
E à tarde um lanche.
Cava-se o chão
Quase todo à enxada,
E ao tocar das Trindades
Logo o sol se escondia,
Mais um cálice de aguardente
E adeus até ao outro dia.
Tinha então acabado
A Segunda Grande Guerra.
Havia falta de tudo,
Com grande racionamento,
Do pão que era de mistura,
E de muitos alimentos.
Os homens ganhavam
A sete escudos por dia
E tinham direito
A beber um litro de vinho.
As mulheres levavam
A comida ao campo para
Alimentarem os maridos.
Sempre às horas marcadas,
Um tacho de caldo verde
E batatas com bacalhau,
Era a refeição do almoço.
Ao jantar uma panela
Com sopa e o conduto
Que comiam com pão.
Todos tinham:
Um monte de filhos
Que vivam ao Deus dará,
Sempre descalços e…
A pedir um naco de pão.
Nesse tempo:
Não havia automóveis
Nem tractores.
A terra era lavrada
Por juntas de bois
E acabada à enxada.
Pelos anos cinquenta
A vida começou a melhorar,
E já se ia de burro
Ou de bicicleta,
Até à Vila ou à cidade.
Mas não havia estradas
E os caminhos eram maus
Cheios de covas e matos.
Mas os camponeses,
Todas as semanas
Tiravam um dia
Para ir vender ao mercado
Aquilo que produziam.
Faltavam muitas escolas.
Salazar começou a dotar
O País de boas escolas,
Porque pouca gente
Sabia ler e escrever.
As crianças iam à escola,
Quase todas de pé descalço,
Mas depois tudo melhorou.
Apareceu a rádio
E depois a televisão.
O povo pouco a pouco,
Ficou mais culto e educado.
São coisas já do passado
Do tempo duro e cruel,
Tão amargo como o fel,
Em que aprendi a viver,
De que dou testemunho.
O mundo dá tantas voltas
Que a má vida de outrora
Que vivi com sã alegria,
Contrasta com a nostalgia,
Que sinto da vida presente,
Onde reina a insegurança
Que me retira a esperança
De viver tranquilamente.


Torres Novas, 30/04/2016

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