terça-feira, 12 de julho de 2016

A CASA DO CARVÃO































Os Contos de Manfer

A CASA DO CARVÃO

Na minha aldeia, havia uma velha tradição de que todo o povo gostava. Era o teatro, principalmente o teatro de revista, que durante muitos anos era feito pelo povo da aldeia e, dizia o meu pai, que muita gente da vila de Torres Novas bem como da cidade de Tomar, iam lá assistir às representações.
O meu pai também dizia que essa tradição acabou no ano de 1941, devido a um grande ciclone que destruiu a casa do teatro, que por acaso até pertencia a um tio da minha mãe, e só se salvou o pano de Boca de cena, pano esse que foi guardado.
O meu pai fez parte de uma tuna de instrumentos de cordas, que tocava e cantava nas récitas que nesse tempo se faziam nesse teatro.
Eu ainda aprendi com o meu pai, que era um tenor, algumas das canções que faziam parte dos espectáculos das revistas que eram exibidas em Lisboa, e que eram copiadas e representadas lá na aldeia pelos “artistas” da casa.
Entretanto, eu cresci e ganhei asas e, aí pelos meus
dezasseis anos de idade, andava a estudar no Colégio Nuno Álvares em Tomar, e colaborei com o Padre Abílio Franco na constituição de um grupo cénico, para recuperar as tradições de teatro da aldeia.
Formado o grupo cénico com rapazes da freguesia, e como na aldeia não havia nada, pedimos uma casa emprestada que nos foi cedida.
Era uma antiga casa de carvão que era produzido numa destilaria contígua mas que estava há muito tempo inactiva.
Deitámos as mãos à obra, mas estivemos mesmo para desistir, dada a grande quantidade de carvão de que o chão e as paredes de pedra à vista, continha. O que nos valeu foi que mais gente apareceu e ajudou nas limpezas. Terminadas as limpezas, tivemos de arranjar o palco e, depois aplicámos o velho pano de boca que ainda existia do antigo teatro, e um novo teatro apareceu à luz do dia.

Várias peças foram encenadas e o teatro voltou à vida durante algum tempo. O grupo cénico conseguiu-se aguentar durante alguns anos, fez récitas até em algumas localidades vizinhas, mas com a ida dos rapazes para o serviço militar e também pelo aparecimento das guerras no ultramar e porque não apareceu mais ninguém e tinha, entretanto, surgido a  Televisão, o nosso grupo desfez-se.
Eu, ainda deixei ao meu irmão mais novo, que se tornou em bom tocador de viola, todos os papéis das peças que representei, mas as circunstâncias da vida com o falecimento do nosso pai, toda a família foi viver
para Torres  Novas e, a ligação à nossa aldeia ficou
à distância,  e quase terminou.
A casa do carvão foi devolvida ao dono e o teatro terá terminado para sempre na minha amada aldeia de Soudos.

Manfer
®
Torres Novas, 6/6/2015

Foto: Net

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